“Praticamente tudo o que os nossos olhos veêm é comunicação visual, uma nuvem, uma flor, um desenho técnico, um sapato, um panfleto, uma libélula, um telegrama (excluindo o conteúdo), uma bandeira. Imagens que, como todas as outras, têm um valor diferente segundo o contexto em que estão inseridas, dando informações diferentes.”
Bruno Munari in Design e Comunicação Visual

quarta-feira, 30 de março de 2011

As letras dos Romanos

Inicialmente, as letras romanas escreviam-se (ou esculpiam-se) sem acabamentos terminais e com hastes de grossura regular; só gradualmente, com o aperfeiçoamento das ferramentas para trabalhar a pedra, é que se desenvolveram as terminações designadas por patilhas ou serifas.


Os romanos não só desenvolveram o «nosso» alfabeto com os seus valores fonéticos, mas também a forma das letras, a sua estética e as relações recíprocas – espacejamentos – que hoje se chamam tracking e kerning. Desenvolveram letras de pompa e celebração, mas também inventaram letras com formas muito condensadas – solução mais económica. Praticaram uma grafia tosca para documentos feitos à pressa. Destes diferentes modos, uns eram usados para epígrafes, outros para documentos de uso diário, escritos com pena ou cálamo sobre pergaminho ou em tabletes de cera.

Os estilos praticados foram:

- a Capitalis Quadrata,

- a Rustica

- a Cursiva

- e a Uncial



Capitalis Quadrata

O termo Capitalis Quadrata designa letras versais cinzeladas em pedra. Mas a quadrata não foi uma letra exclusivamente lapidar, também foi usada para documentos escritos sobre papiro ou pergaminho. Ocasionalmente, a pomposa capitalis quadrata era combinada com uma outra forma, considerada mais torpe, mais rústica.



Rustica


Para obter uma substancial economia de espaço – mas sem maior prejuízo para a legibilidade – desenvolveu-se no Império Romano uma letra condensada – a capitalis rustica. Obteve-se uma versão mais fluida e mais caligráfica da quadrata, uma letra um pouco menos formal, mais apertada e económica e talvez também mais rápida na sua execução. A capitalis rústica é a base de todas as letras posteriores de estilo condensado.


Cursiva


A raiz das letras minúsculas de hoje encontra-se nas letras romanas usadas para documentos vulgares. Para acelerar a escrita destes documentos, os Romanos alongaram e comprimiram as formas da Quadrata. Para contrariar a perda de legibilidade resultante desta compressão, introduziram-se prolongamentos em várias letras. Apareceram hastes descendentes e ascendentes para marcar mais pronunciadamente as formas características das letras. Nasceu assim a cursiva, um género de letra apressada, que se escrevia em todo o tipo de suportes – até em barro fresco. Os glifos da cursiva aparecem inclinados pelo ducto manual, pela coreografia dos dedos a escrever rapidamente. Nos textos compactos escritos em cursiva, as serifas desaparecem; os traços descendentes e ascendentes passam a caracterizar este e todos os futuros alfabetos de letras minúsculas.



Uncial


As primeiras manifestações da uncialis mostram letras largas, simples, amiúde riscadas com um só traço, tirando partido da superfície lisa do pergaminho, que então começou a substituir o papiro (o papiro, de superfície mais rugosa, pede letras compostas de vários traços). As unciais foram uma evolução tardia das maiúsculas romanas. Apareceram no declínio do Império Romano, persistiram no reino de Bizâncio e durante toda a Idade Média, formando uma das múltiplas ligações entre a cultura gráfica tardo-romana e a prática tipográfica contemporânea. Mas a separação das palavras, que hoje nos parece trivial e comum, ainda não é evidente; o texto aparece como um contínuo. Só mais tarde, as letras unciais (e todos os outros tipos de letras) serão aplicadas em palavras separadas. Nos dois séculos que se seguiram a 400, as formas das unciais tornam-se gradualmente mais complexas; por volta de 600, os manuscritos mostram um aumento de ornamentos e floreados. As alterações mais significativas da uncialis são o aparecimento de ascendentes e descendentes, dando origem às chamadas semi-unciais.


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