“Praticamente tudo o que os nossos olhos veêm é comunicação visual, uma nuvem, uma flor, um desenho técnico, um sapato, um panfleto, uma libélula, um telegrama (excluindo o conteúdo), uma bandeira. Imagens que, como todas as outras, têm um valor diferente segundo o contexto em que estão inseridas, dando informações diferentes.”
Bruno Munari in Design e Comunicação Visual

segunda-feira, 14 de março de 2011

Elementos Básicos da Comunicação Visual

Sempre que alguma coisa é projetada e feita, esboçada e pintada, desenhada, rabiscada, construída, esculpida ou gesticulada, a substância visual da obra é composta a partir de uma lista básica de elementos. Os elementos visuais constituem a substância básica daquilo que vemos, são a matéria-prima de toda informação visual em termos de opções e combinações seletivas.


O ponto

O ponto é a unidade de comunicação visual mais simples e irredutivelmente mínima. Na natureza, a rotundidade é a formulação mais comum, sendo que, em estado natural, a recta ou o quadrado constituem uma raridade. Qualquer ponto tem grande poder de atracção visual. Quando vistos juntos, os pontos ligam-se, sendo capazes de dirigir o olhar. Essa capacidade é intensificada pela maior proximidade dos pontos. Em grande número e justapostos, os pontos criam a ilusão de tom ou de cor.



A linha


Quando os pontos estão tão próximos entre si que se torna impossível identificá-los individualmente, aumenta a sensação de direcção, e a cadeia de pontos transforma-se noutro elemento visual distintivo: a linha. Esta pode ser ainda definida como um ponto em movimento, ou como a história do movimento de um ponto. Nas artes visuais, a linha tem uma enorme energia - nunca é estática - é o elemento visual inquieto e inquiridor do esboço. A sua natureza linear e fluida reforça a liberdade de experimentação. Contudo, apesar de sua flexibilidade e liberdade, a linha não é vaga: é decisiva, tem propósito e direcção, vai para algum lugar, faz algo de definitivo. A linha, assim, pode ser rigorosa e técnica. A linha pode assumir formas muito diversas para expressar uma grande variedade de estados de espírito. Pode ser muito imprecisa e indisciplinada, muito delicada e ondulada, ou nítida e grosseira, nas mãos do mesmo artista. Pode ser hesitante, indecisa e inquiridora, quando é simplesmente uma exploração visual em busca de um desenho. Pode ser ainda tão pessoal quanto um manuscrito em forma de rabiscos nervosos, reflexo de uma actividade inconsciente sob a pressão do pensamento, ou um simples passatempo. Mesmo no formato frio e mecânico dos mapas, nos projetos para uma casa ou nas engrenagens de uma máquina, a linha reflete a intenção do artífice ou artista, seus sentimentos e emoções mais pessoais e, mais importante que tudo, sua visão.



A forma


A linha descreve uma forma. Existem três formas básicas: o quadrado, o círculo e o triângulo equilátero. Cada uma das formas básicas tem suas características específicas, e a cada uma se atribui uma grande quantidade de significados. Ao quadrado associam-se enfado, honestidade, rectidão e esmero; ao triângulo, acção, conflito, tensão; ao círculo, infinitude, calidez, protecção.



A direcção


Todas as formas básicas expressam três direcções visuais básicas e significativas: o quadrado, a horizontal e a vertical; o triângulo, a diagonal; o círculo, a curva. Cada uma das direcções visuais tem um forte significado associativo e é um valioso instrumento para a criação de mensagens visuais.


O tom

A luz circunda as coisas, é refletida por superfícies brilhantes, incide sobre objectos que têm, eles próprios, claridade ou obscuridade relativa. As variações de luz ou de tom são os meios pelos quais distinguimos opticamente a complexidade da informação visual do ambiente. Em outras palavras, vemos o que é escuro porque está próximo ou se subrepõe ao claro, e vice-versa. Na natureza, a trajectória que vai da obscuridade à luz é entremeada por múltiplas gradações subtis. O mundo em que vivemos é dimensional, e o tom é um dos melhores instrumentos de que dispõe o visualizador para indicar e expressar essa dimensão. A perspectiva é o método para a criação de muitos dos efeitos visuais especiais de nosso ambiente natural, e para a representação do modo tridimensional que vemos em uma forma gráfica bidimensional.




A cor


A cor tem maiores afinidades com as emoções. A cor está impregnada de informação, e é uma das mais penetrantes experiências visuais que temos todos em comum. Constitui, portanto, uma fonte de valor inestimável para os comunicadores visuais. Cada uma das cores também tem inúmeros significados associativos e simbólicos. Assim, a cor oferece um vocabulário enorme e de grande utilidade para o alfabetismo visual. A cor tem três dimensões que podem ser definidas e medidas: matiz, que é a cor em si; a saturação, que é a pureza relativa de uma cor, e o brilho.



A textura


A textura é o elemento visual que com frequência serve de substituto para as qualidades de outro sentido, o tacto. A textura relaciona-se com a composição de uma substância através de variações mínimas na superfície do material. Pode transmitir sensações de suavidade ou aspereza, sugestionadas através dos tons, das cores dos pontos.



A escala


Todos os elementos visuais são capazes de se modificar e se definir uns aos outros. O processo constitui, em si, o elemento daquilo que chamamos de escala. O grande não pode existir sem o pequeno. Em termos de escala, os resultados visuais são fluidos, e não absolutos, pois estão sujeitos a muitas variáveis modificadoras. Por exemplo, um quadrado pode ser considerado grande ou pequeno, dependendo do seu tamanho relativo no campo. Existem fórmulas de proporção nas quais a escala pode basear-se. A mais famosa é a secção áurea grega, uma fórmula matemática de grande elegância visual. A versão contemporânea mais importante é a que foi concebida pelo arquitecto francês Le Corbusier. A unidade modular na qual se baseia é o tamanho do homem, e a partir dessa proporção ele estabelece uma altura média de tecto, uma porta média, uma abertura média de janela, etc. Tudo se transforma em unidade e é passível de repetição. Aprender a relacionar o tamanho com o objectivo e o significado é essencial na estruturação da mensagem visual.



A dimensão


A dimensão existe no mundo real. Mas em nenhuma das representações bidimensionais da realidade, como o desenho, a pintura, a fotografia, o cinema e a televisão, existe uma dimensão real; ela é apenas implícita. O principal artifício para simulá-la é através da perspectiva. Os efeitos produzidos pela perspectiva podem ser intensificados pela manipulação tonal, através do claro-escuro, a dramática enfatização de luz e sombra. A perspectiva tem fórmulas exactas, com regras múltiplas e complexas. Recorre às linhas, tons e cores para criar a ilusão de planos diferentes, mas a sua intenção final é produzir uma sensação de realidade. Todas as linhas convergem para o ponto de fuga.



O movimento


Como no caso da dimensão, o elemento visual do movimento encontra-se mais frequentemente implícito do que explícito no modo visual. Contudo, o movimento talvez seja uma das forças visuais mais dominantes da experiência humana. Mesmo no cinema e nos desenhos animados não existe o verdadeiro movimento; ele não se encontra no meio de comunicação, mas no olho do espectador, através do fenómeno fisiológico da "persistência da visão". O olho explora continuamente o meio ambiente, em busca de seus inúmeros métodos de absorção das informações visuais. O olho move-se em resposta ao processo inconsciente de medição e equilíbrio através do "eixo sentido" e das preferências esquerda-direita e alto-baixo.


Todos esses elementos, o ponto, a linha, a forma, a direcção, o tom, a cor, a textura, a escala, a dimensão e o movimento são os componentes irredutíveis dos meios visuais. Constituem os ingredientes básicos com os quais contamos para o desenvolvimento do pensamento e da comunicação visuais.


DONDIS, Donis A. A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991, pp. 51-83.

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