“Praticamente tudo o que os nossos olhos veêm é comunicação visual, uma nuvem, uma flor, um desenho técnico, um sapato, um panfleto, uma libélula, um telegrama (excluindo o conteúdo), uma bandeira. Imagens que, como todas as outras, têm um valor diferente segundo o contexto em que estão inseridas, dando informações diferentes.”
Bruno Munari in Design e Comunicação Visual

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Cor | Trabalho final

The whole world, as we experience it visually,
comes to us through the mystic realm of color.
Hans Hofmann (1880-1966)

Original

Modificado



Memória Descritiva

A terceira proposta de trabalho consiste na alteração de cor, dando novos significados às imagens escolhidas. Assim se torna perceptível a importância desse elemento na comunicação visual.
A fotografia original apresenta cores vivas e quentes como o vermelho das flores, o azul apaziguador do céu e o verde fulgurante da relva. O vermelho é a cor da paixão e do sentimento. Simboliza o amor, o desejo. O azul transmite a ideia de subtileza, mas também do ideal e do sonho. Esta cor alia-se ao espírito e ao pensamento. A cor verde representa o frescor, a esperança e a calma. Cores que concorrem para a formação de um cenário idílico, dominado pela vida, pela liberdade, pela espontaneidade, pela paz, reveladora de tranquilidade.

Na fotografia manipulada optei por priveligiar os tons de cinza, conotados com o medo, a depressão, o desânimo, a natureza morta. O púrpura das flores corrobora estes sentimentos. O azul e o verde, antes vivos, apresentam-se agora esbatidos, carregados no seu simbolismo de soturnidade.

De uma imagem alegre, viva, que transparece liberdade e confiança surge uma outra bastante mais misteriosa, oculta, que inquieta e intimida.




Original

Modificado


Memória Descritiva

A segunda proposta de alteração de cor é a capa da revista Visão, de 8 a 14 de Janeiro de 2009. O destaque principal "Tragédia sem fim" remete-nos para o conflito entre Israel e o Hamas.

Recorde-se que as Forças de Defesa de Israel iniciaram a 27 de Dezembro de 2008 uma ofensiva contra a faixa de Gaza, território palestino com 1,5 milhão de habitantes dominado pelo grupo radical islâmico Hamas. O objectivo declarado da operação é eliminar a capacidade do Hamas de atacar as cidades israelitas próximas à fronteira.
Os bombardeios começaram oito dias depois do fim de uma trégua de seis meses (iniciada em Junho de 2008) mediada pelo Egipto, que não foi renovada, no meio a acusações mútuas de desrespeito aos termos do acordo.

Por se tratar de um assunto sério, de contornos trágicos, a Visão produziu uma capa sóbria, simples, com lettering preto, em fundo branco. O preto está, neste caso, associado à ideia de morte, luto ou terror e o branco, na sua simplicidade pacificadora, complementa o quadro imagético pretendido. Já o vermelho forte e vivo é apanágio da marca Visão.
As cores desta capa, em si mesmas, representam a integridade, a confiança, a sociabilidade, a sobriedade, a cautela e o idealismo.
Alterar a cor do lettering Visão é desmanchar a idiossincrasia da capa. De facto, as letras vermelhas são a imagem da marca. Daí ter sido a minha primeira alteração. O vermelho foi substituído pelo azul, bastante mais frio. De seguida substituí o preto das parangonas, pelo rosa, contrariamente mais quente. Portanto, inverter o papel das cores. O background "pintei-o" de azul claro para dar à capa um ar mais alegre, em contrante com a ambiência negra transmitida pela fotografia. Desta forma, todo o sentido da imagem fica disconexo e irónico.



Original

Modificado


Memória Descritiva

Os cartazes publicitários da Benetton ficarão para a história e serão reconhecidos em qualquer parte do mundo pela sua publicidade irreverente. A Benetton não foge aos assuntos quentes da actualidade e utiliza-os frequentemente para incorporar os seus cartazes com mensagens fortes de crítica social. Assuntos como o racismo, a discriminação sexual ou a violência doméstica são várias vezes atacados na publicidade da Benetton, normalmente reforçada por imagens fortes e penetrantes.
O cartaz alvo de modificação, datado de 1994, representa a roupa de um jovem soldado bósnio morto em combate. Tal como é característico das campanhas deste anunciante, a linguagem, apesar de ser apenas visual, é violenta. No caso apresentado, o cartaz foca o tema da guerra e alerta para o perigo da participação nesta.
A t-shirt e as calças de um jovem soldado estão tingidas de sangue e a t-shirt apresenta ainda um buraco resultante de um tiro. O vermelho do sangue assume preponderância nesta construção imagética, remetendo para a violência, a agressividade e o poder. Ao substituí-lo a imagem perde toda a carga simbólica intrínseca. O azul escuro, conotado com a tibiez, a falta de coragem ou a monotonia vem alterar profundamente a mensagem.

Também as calças, agora pinceladas de verde, rosa e vermelho, deixam de ter o padrão próprio do serviço militar para possuir uma mescla de tons coloridos e irreverentes, próprios da juventude. Um conjunto que em nada aponta para a mensagem inicial, mas para um look descontraído, marcado pelo colorido e pela mistura alegre de tons.

A última alteração foi feita na cor do logótipo da Benetton. O rectângulo verde característico da marca foi substituído pelo cinza que faz com que este não seja imediatamente reconhecido.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Cor no dia-a-dia

Conforme exigido na Proposta de Trabalho 03, aqui ficam alguns exemplos do dia-a-dia nos quais a cor desempenha um papel determinante na comunicação visual do significado dos mesmos.










domingo, 17 de abril de 2011

Psicologia da Cor

“Le vert absolu est la couleur la plus reposante qui soit; elle ne se meut vers aucune direction et n’a aucune consonance de joie, de tristesse ou de passion.
Le rouge agit intérieurement comme une couleur très vivante. Il brûle mais plutôt en soi-même.
Le bleu développe un mouvement concentrique (comme un escargot qui se recroqueville dans sa coquille) et s’éloigne de l’homme.
Le jaune irradie, prend un mouvement excentrique et se rapproche presque visiblement de l’observateur."
(KANDINSKY, 1989)


Na realidade, outro aspecto importante, ainda não totalmente esclarecido pela ciência, refere-se às variações emocionais e pessoais da percepção das cores, como se apercebe Kandinsky. Sabe-se que pacientes no início de uma grave depressão descrevem com frequência uma sensação de obscurecimento visual, sendo provável que a percepção cromática possa estar associada ao estado emocional. Para estes pacientes foi criada uma terapêutica de luz baseada na cor, a cromoterapia (ZELANSKI, 2001).
Apesar do reconhecimento, ainda muito por investigar no domínio da influência que as cores provocam nas emoções humanas, não existe consenso entre os especialistas.
Conta-se que já nas civilizações egípcia, chinesa e indiana existiam “salas de cor”, onde se tratavam algumas doenças. Por exemplo, as afecções cutâneas e as febres eram curadas com exposição à luz azul índigo. Sabe-se ainda que algumas cores provocam reacções fisiológicas, como a cor vermelha que estimula a segregação glandular.
O investigador alemão Henner Ertel estudou os efeitos psicológicos do cromatismo ambiental nas escolas de Munique e concluiu que o amarelo, o verde amarelado, o laranja e o azul claro eram as cores que provocavam efeitos mais positivos nos alunos, elevando o seu coeficiente intelectual e tornando-os mais alegres e sociáveis, em oposição aos ambientes revestidos de cor branca, acastanhada e preta (ZELANSKI, 2001).

Terão as cores o mesmo significado para todas as culturas?
Este significado será invariável no tempo?
O que simbolizam as cores?
Simbologia da Cor

“(…) Color vision seems, to those who have it, so simple and direct that it needs for them no explanation. It is only when confronted with phenomena like those just discussed that one realizes that the eye is not simply like a camera. We tend to see something that approximates reality, but a “reality” that is constructed by our visual systems. For example, objects tend to appear almost the same color under very different illuminations. The same mechanisms which allows us to maintain a reasonably constant picture of the world are responsible for optical illusions. Both reality and illusions are manifestations of the lawful processes of our visual systems. The illusions are the more instructive since they often make it clear where the holes in our understanding are. As Kurt Koffka (1935) has pointed out, the problem in understanding perception is not why do things look as they are, but why do things look as they do (...).”
(KRAUSKOPF, 1998: p. 120)


Como escreve Krauskoff a realidade e a ilusão são as faces da mesma moeda que é o sistema visual e são responsáveis pela compreensão e transformação do mundo.
O simbolismo cromático também é um dos aspectos a considerar no panorama psicológico da cor. Por exemplo, a cor amarela veio a decrescer de importância ao longo da história, começando na Grécia e Roma Imperial a estar associada ao prestígio do poder político e religioso para, na Idade Média, ser a cor dos excluídos, com que se pintavam as casas dos traidores e criminosos. Na história recente, do século XX, no período das Grandes Guerras, a cor amarela era atribuída ao povo judaico (PASTOUREAU, 1997).
Cada cultura apropria-se da cor de forma variável. Por exemplo, no luto dos países ocidentais, o preto é a cor utilizada pelos parentes do falecido, enquanto nos países orientais, como a China e a Índia, o branco é a cor usada na cerimónia fúnebre, por estar associada à paz.
Confira aqui alguns significados das cores:



Fontes:

sábado, 16 de abril de 2011

Fisiologia da Cor

A luz penetra no olho humano através da córnea, que é um revestimento exterior transparente, pela pupila. Em função da maior ou menor quantidade de luz, os músculos da íris contraem-se ou expandem-se para controlar esta entrada de luz. A luz admitida passa a ser captada por três elementos refractores: o humor aquoso, o cristalino e o humor vítreo. É na parte posterior do olho que encontramos uma quantidade de células especializadas e dispostas em camadas que formam a chamada retina. A camada mais importante deste sistema para o reconhecimento cromático é constituída por uns fotoreceptores denominados de bastonetes e cones, assim chamados pelas formas que apresentam.
Os 120.000.000 bastonetes que formam a camada da retina de um olho permitem, com pouca luz, distinguir as formas sem definição das suas cores. Os 5.000.000 cones contêm três tipos diferenciados de pigmentos sensíveis à luz para perceberem os comprimentos de ondas electromagnéticas largos (gama dos vermelhos), médios (gama dos verdes) e curtos (gama dos azuis/violeta), necessitando de maior quantidade de luz para a percepção das tonalidades. É por isso que na ausência de luz não possuímos sensações cromáticas porque os cones necessitam dela
para operarem (ZUPPIROLI, 2001).
Esquema das conexões na retina
Fonte: ZUPPIROLI, 2001


Foi o físico inglês Thomas Young que em 1801, na obra “On the Theory of Light and Colours”, avançou com a teoria tricromática em que todas as sensações de cor eram formadas pela reacção dos três comprimentos de ondas electromagnéticas presentes nos cones, teoria esta desenvolvida pelo físico alemão Herman von Helmholtz (Handbook of Physiological Optics, 1856/66) e enunciada pelo cientista James Maxwell.

Corte do olho humano - Thomas Young Traité de Philosophie Naturelle
Fonte: ZUPPIROLI, 2001

Na presença da luz os pigmentos sensíveis dos dois elementos, acima referidos, bastonetes e cones, transmitem mensagens electroquímicas, através do nervo óptico, para o córtex visual do cérebro que converte em imagens com forma, volume, escala, cor, etc.
No caso da leitura cromática, as células ditas ganglionárias associadas aos cones, criam impulsos de frequências variadas na visão, discriminando eficazmente o vermelho do verde, o azul do amarelo e o branco do negro, inibindo um e activando outro. A cor violeta, por exemplo, surge da activação lumínica dos cones vermelhos e inibição dos verdes em conjunto com a activação dos azuis por inibição dos amarelos. Por isso, na percepção cromática não existe a cor vermelha-esverdeada nem a cor amarela-azulada (KRAUSKOPF, 1998).
Estudos elaborados pelos neurofisiologistas David Hubel (Anatomy and Physiology of a Color System in the Primate Visual Cortex, 1984) e Semir Zeki (Inner Vision, 1999) sobre o córtex visual do cérebro trouxeram contributos importantes no campo científico para a compreensão da especialização funcional das partes que compõem o cérebro no tratamento da informação visual.
Em experiências feitas por Edwin Land (The Retinex Theory of Color Vision, 1977) verificou-se a existência de mecanismos no cérebro humano que operam de maneira diferente de uma máquina fotográfica que necessita de filmes ou filtros especiais para registar a mesma cor ao longo do dia, ao contrário da visão humana que consegue ver a mesma cor num edifício, independentemente da variação lumínica, por exemplo, pela manhã e ao fim da tarde. A esta constância cromática, Land associou o resultado de actuação conjunta entre o aparato perceptivo do córtex visual do cérebro e os fotoreceptores da retina do olho (NASSAU, 1998).
Para compreender na sua totalidade a cor, é importante conhecer a influência psicológica que esta exerce no comportamento do indivíduo, o que a seguir se descreve.
Fontes:

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Cor - Take II

A cor é um dos elementos visuais mais importantes, porque transmite uma enorme quantidade de informação. A cor permite-nos distinguir, entender, simbolizar e identificar.

As cores só existem se três componentes estiverem presentes: um observador, um objecto e luz. Apesar da luz branca ser normalmente encarada como "sem cor", na realidade ela contém todas as cores do espectro visível. Quando a luz branca atinge um objecto ele absorve algumas cores e reflecte outras; somente as cores reflectidas contribuem para a interpretação da cor feita pelo observador.

Um físico refere-se à cor como um fenómeno de impressão procedente da luz solar, que incide sobre a natureza das formas estimulando a visão humana, através de uma série de elementos energéticos que viajam em forma de ondas electromagnéticas (reflectidas, refractadas, difundidas, etc.).

A compreensão do significado físico da cor é iniciada com as investigações de Isaac Newton (1642-1727), físico e matemático inglês que, com um prisma óptico, analisou o espectro visível da luz solar, e detectou o fenómeno de refracção da luz, demonstrando por decomposição que esta é formada por um conjunto de radiações visíveis que vão do vermelho ao violeta (as mesmas que se podem ver no arco-íris).

O espectro visível da luz é o nome atribuído à gama de comprimentos de onda de energia irradiada pela luz que o olho humano pode distinguir e a expressão quantitativa destes comprimentos de onda é medida através de nanómetros. Como exemplo, à cor vermelha, corresponde um comprimento de onda entre 610 e 760 nm (NASSAU, 1998).


Relativamente aos pigmentos coloridos dos objectos, as cores actuam de forma diferente das cores dos feixes de luz, uma vez que a matéria colorida da superfície onde a luz incide absorve certos comprimentos de onda e reflecte outros. Os comprimentos de onda reflectidos nos objectos formam as cores observadas destes objectos.

Cor-luz e Cor-pigmento
Ao falarmos de cores, temos que diferenciar duas linhas de pensamento distintas: a cor-luz e a cor-pigmento.
A cor-luz, baseia-se nas emissões da luz solar e pode ser vista percebida através dos raios luminosos e da sua decomposição através dum prisma.
A cor-pigmento refere-se a substância usada para imitar os fenómenos da cor-luz. Estas cores podem ser extraídas da natureza, de materiais de origem vegetal, animal ou mineral, como resultado de processos de processos industriais, que dão origens aos pigmentos.

A síntese aditiva (cor-luz)
A experiência de Newton com dois prismas é um exemplo de soma de cores. As cores componentes, somadas no segundo prisma, reproduzem a luz branca.
A síntese aditiva da cor possui como cores primárias o vermelho, o verde e o azul (Red, Green e Blue, RGB). Essas cores são primárias, pois são aquelas que os nossos olhos “percebem”. É a partir delas que todas as outras são formadas.
Nesse sistema a mistura de duas cores resulta sempre numa cor-luz. Quando se misturam as três cores primárias em intensidade máxima, alcança-se o branco.
Esse sistema chama-se aditivo, pois as cores formam-se através de soma de luz, por isso o resultado da soma das cores é o branco.
Quando se mistura duas cores primárias, obtém-se uma cor secundária. Na síntese aditiva de cor os tons secundários são o ciano (azul + verde), amarelo (vermelho + verde ) e magenta (azul + vermelho).
A composição por RGB é utilizada em aparelhos emissores de luz, como por exemplo os televisores, projectores e monitores.

A síntese subtractiva (cor-pigmento)
Subtrair cores consiste em eliminar uma ou mais dos componentes da luz. Por exemplo, misturar tintas
equivale a subtrair cores. Desde pequenos que sabemos que a tinta azul misturada com tinta amarela dá tinta verde. O que acontece é que os pigmentos da tinta azul absorvem as componentes do lado vermelho e os pigmentos da tinta amarela absorvem as componentes do lado azul. Sobram os componentes intermediários, isto é, o verde.
A síntese subtractiva baseia-se em quatro cores pigmento principais, responsáveis por subtrair as três luzes do sistema RGB, são elas: o ciano, o magenta, o amarelo que juntos resultam na cor preta, e o próprio preto (CMYK: cyan, magenta, yellow, black)
Utilizando percentagens dessa quadricromia, obtemos uma vasta gama de tons e cores.
Este é o sistema utilizado nos sistemas de impressão, pois utiliza pigmento e não luz.


Cores complementares
As cores complementares são as que oferecem as melhores combinações e são obtidas pela observação das cores opostas no circulo cromático. São as que estão “diametralmente opostas”. A cor complementar de uma cor primária é a que resulta da mistura das outras duas cores primárias.
As cores análogas são interessantes se pretendermos criar um ambiente mais suave. As cores complementares são usadas para dar força e equilíbrio a um trabalho criando contrastes. Ressalta-se que as cores complementares são as que mais oferecem contrastes entre si.

Propriedades das cores
As variações existentes entre as cores estão associadas a três propriedades: a matiz, que corresponde à longitude de onda peculiar de uma cor; a saturação, que é a medida de pureza ou intensidade de uma cor e a luminosidade, que corresponde à graduação de claridade ou obscuridade de uma cor (ZELANSKI, 2001).

Matiz ou cor
É o que distingue uma cor da outra. É o nome genérico da cor. É a característica qualitativa de uma cor, que se especifica com os termos azul, vermelho, verde, amarelo, etc. Esse conceito é ligado directamente ao comprimento de onda de cada radiação.
Um único matiz tem muitas variações da sua cor pura, desde as mais claras às mais escuras.

Saturação
A saturação de uma cor é o seu grau de pureza. Uma cor é tanto mais saturada quanto menor for o seu conteúdo de branco ou cinza. As cores da natureza são sempre mais ou menos saturadas. As cores mais saturadas são aquelas que não são originárias de pigmentos, mas sim de fenómenos interferenciais.

Luminosidade
A intensidade ou luminosidade de uma cor é a característica que faz com que ela apareça mais clara do que uma outra, independente da sua saturação.
Temperatura da cor
O psicólogo alemão Wundt estabeleceu a divisão fundamental das cores em quente e frias.
As cores quentes são psicologicamente dinâmicas e estimulantes como a luz do sol e o fogo. Sugerem vitalidade, alegria, excitação e movimento. As cores quentes parecem que avançam e que se aproximam.
As cores frias são calmantes, tranquilizantes, suaves e estáticas, como o gelo e a distância. As cores frias parecem que se retraem e que se afastam.


A temperatura das cores, designa a capacidade que as cores têm de parecer quentes ou frias e de transmitir sentimentos ao observador.
Quando se divide um disco cromático ao meio com uma linha vertical cortando o amarelo e o violeta, percebemos dois blocos correspondentes às cores frias e as cores quentes.
Fontes:

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Flicts




"Não tinha a força do Vermelho
não tinha a imensidão do Amarelo
nem a paz que tem o Azul
Era apenas o frágil e feio e aflito Flicts”.



Flicts é um livro infantil ilustrado do escritor e desenhista Ziraldo. Editado pela primeira vez em 1969, o livro conta a história de uma cor procurando o seu lugar no mundo.
Flicts é uma cor de que ninguém gosta, ninguém lê, da qual ninguém se lembra. Até que, fugindo dos seres humanos, ela vai até a Lua, e descobre que a cor da Lua é Flicts!

O professor mostrou este livro na aula, a propósito da proposta da Cor.
É simplesmente fantástico!

A Cor



No momento, o meu espírito está inteiramente tomado pelas leis das cores.
Ah, se elas nos tivessem sido ensinadas em nossa juventude.
Van Gogh

A
cor é a tecla. O olho é o martelo. A alma o piano de inúmeras cordas.
Wassily Kandinsky

As cores são a minha obsessão, o meu divertimento e o meu tormento de todos os dias.
Monet
Todas as cores concordam no escuro.
Francis Bacon


As cores que percebemos são produzidas pela luz. A luz do sol, aparentemente branca, é, na verdade, composta pelas sete cores do arco-íris. Quando a luz do sol ilumina um objecto, algumas dessas cores são absorvidas pelo objecto, enquanto as outras são reflectidas na direcção dos olhos que as percebem. É esse fenómeno que nos permite dizer qual a cor dos objectos.
As cores exercem diferentes efeitos fisiológicos sobre o organismo humano e tendem, assim, a produzir vários juízos e sentimentos. Aparentemente, damos um peso às cores. Na realidade, olhando para cada cor damos um valor-peso, mas é somente um peso psicológico.
A cor, elemento fundamental em qualquer processo de comunicação, merece uma atenção especial. É um componente com grande influência no dia-a-dia das pessoas, interferindo nos sentidos, emoções e intelecto; pode portanto, ser usada deliberadamente para se atingir objectivos específicos.
Devido às suas qualidades intrínsecas, a cor tem capacidade de captar rapidamente - e sob um domínio emotivo - a atenção.
A cor exerce uma tríplice acção: a de impressionar, a de expressar e a de construir. A cor é vista: impressiona a retina. É sentida: provoca emoção. É construtiva, pois tendo um significado próprio, possui valor de símbolo, podendo assim, construir uma linguagem que comunique uma ideia.

(artigo a desenvolver posteriormente)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fernando Pessoa e a Heteronímia

Fernando Pessoa usava de forma exímia as palavras - sabia, melhor do que ninguém, que as palavras são etiquetas que se colam às coisas. É marcante a sua curiosidade por tudo o que ultrapassava os limites humanos. Figura cimeira da literatura portuguesa e da poesia europeia do século XX, Fernando Pessoa dedicou a sua vida a criar e divulgar a língua materna. Nas próprias palavras do poeta “a minha pátria é a língua portuguesa”. Com uma visão simultaneamente múltipla e unitária da vida, cativou o mundo com a sua escrita, misticismo e esoterismo e criou o seu próprio mundo. Um espírito rico e paradoxal não se podia resumir a uma só personalidade. Com a criação dos heterónimos, o poeta gerou, em torno de si, um mistério que perpetua o seu nome infinitamente.


“Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo, igual a este mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as quais esta, sucedida já em maioridade. Ocorria-me um dito de espírito, absolutamente alheio, por um motivo ou outro, a quem eu sou, ou a quem eu suponho que sou. Dizia-o imediatamente, espontaneamente, como sendo de certo amigo meu, cujo nome inventava, cuja história acrescentava, e cuja figura — cara, estatura, traje e gesto — imediatamente eu via diante de mim. E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, oiço, sinto, vejo. Repito: oiço, sinto, vejo… E tenho saudades deles.”

in Carta a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos heterónimos, de 13 de Janeiro de 1935


“Por qualquer motivo temperamental que me não proponho analisar, nem importa que analise, construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e ideias, os escreveria. Assim têm estes poemas de Caeiro, os de Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que ser considerados.”


Alberto Caeiro

Alberto Caeiro apresenta-se como um simples "Guardador de rebanhos", que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento. Poeta do olhar, procura ver as coisas como elas são, sem lhes atribuir significados ou sentimentos humanos. Considera que "pensar é estar doente dos olhos", pois as coisas são como são. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso, "pensa vendo e ouvindo". Recusa o pensamento metafísico, afirmando que "pensar é não compreender". Caeiro constrói uma poesia das sensações, apreciando-as como boas por serem naturais. Para ele, o pensamento apenas falsifica o que os sentidos captam. É um sensacionista, que adere espontaneamente às coisas tal como são e procura gozá-las com despreocupada e alegre sensualidade. "Argonauta das sensações verdadeiras", o poeta ensina a simplicidade, o que é mais primitivo e natural. Daí que a poesia das sensações seja, também, uma poesia da Natureza. Caeiro afirma-se o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, Caeiro dá especial importância ao acto de ver, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Passeando e observando o mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza. "Sou um guardador de rebanhos" é um dos poemas que, num tom de ritmo moderado, advogam uma síntese de calma e de movimento num presente que se actualiza e objectiva o desacordo entre o que se pensa e a vida que acontece. Poeta instintivo e raciocinador anti-metafísíco, o heterónimo pessoano Alberto Caeiro é o poeta da simplicidade completa e da clareza total, que representa a reconstrução integral do paganismo, descrevendo o mundo sem pensar nele. Alberto Caeiro propõe-se não passar do realismo sensorial, considerando que "a sensação é a única realidade para nós". Considera que é preciso aprender a não pensar, libertando-se de tudo o que possa perturbar a apreensão objectiva e limpa da realidade concreta, tendo de fazer, como diz, uma "aprendizagem de desaprender", O "puro sentir", nomeadamente através da visão, constitui a verdadeira vida para Alberto Caeiro, que saúda o breve e transitório, pois na Natureza tudo muda. Aprecia as coisas, tais como são, e procura a sua fruição despreocupada.


Ricardo Reis

Ricardo Reis é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. "Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio", "Prefiro rosas, meu amor à pátria" ou "Segue o teu destino" são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação. A filosofia de vida de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia. Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico lúcido e disciplinado. A sua poesia intelectual faz a apologia da indiferença do homem diante do arbítrio e do poder dos deuses e faz renascer o objectivismo helénico reencarnando uma reexperimentaçâo de pensamento e de estética que se distancia de Pessoa, mas que o configura. Em Ricardo Reis há a apatia face ao mistério da vida mas também se encontra o mundo de angústias que afecta Pessoa. O heterónimo pessoano Ricardo Reis é um poeta contemplativo que procura a serenidade, livre de afectos e de tudo o que possa perturbar o seu espírito. É, também um estóico, apesar de, aparentemente, resignado. Há, no seu pensamento, uma tensão, uma atitude de luta contra tudo o que lhe tire o desassossego. É uma atitude vital na busca do entendimento da felicidade e da liberdade a que tende o homem, obrigado a viver num meio social adverso. A obra de Reis sugere-nos o saber contemplar, ou seja, ver intelectualmente a realidade: “Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo”. Para Reis é necessário saber apreciar, muito consciente e tranquilamente, o prazer das coisas, sem qualquer esforço ou preocupação. É preciso viver a vida em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer: “Segue o teu destino, / Rega as tuas plantas, / Ama as tuas rosas. / O resto é a sombra / De árvores alheias”. Próximo de Caeiro, há na sua poesia a aurea mediocritas, o sossego do campo, o fascínio pela natureza onde busca a felicidade relativa.


Álvaro de Campos

Para Álvaro de Campos, a sensação é tudo. O Sensacionismo torna a sensação a realidade da vida e a base da arte. O "eu" do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalização das sensações, mas sobretudo das percepções conforme as sente. O seu Sensacionismo distingue-se do de Alberto Caeiro na medida em que Caeiro, na sua simplicidade e serenidade, via tudo nítido e recusava o pensamento para fundamentar a sua felicidade por estar de acordo com a Natureza; Campos, sentindo a complexidade e a dinâmica da vida moderna, procura sentir a violência e a força de todas as sensações. Em Campos, há a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações, numa vertigem insaciável, que o leva a querer "ser toda a gente e toda a parte". Numa atitude unanimista, procura unir em si toda a complexidade das sensações. Mas, passada a fase eufórica, o desassossego de Campos leva-o a revelar uma face disfórica, a ponto de desejar a própria destruição. Há aí a abulia e a experiência do tédio, a decepção, o caminho do absurdo. Depois de exaltar a beleza da força e da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida, a poesia de Campos revela um pessimismo agónico, a dissolução do "eu", a angústia existencial e uma nostalgia da infância irremediavelmente perdida. Dos três heterónimos é aquele que mais sensivelmente percorre uma curva evolutiva. A obra de Álvaro de Campos passa por três fases: a decadentista, que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações. A segunda fase é a futurista e sensacionista, que se caracteriza pela exaltação da energia, de "todas as dinâmicas" e da velocidade e da força até situações de paroxismo. A terceira é a fase intimista ou da abulia que, perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento. Álvaro de Campos é o mais moderno dos heterónimos de Fernando Pessoa. O seu drama concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela como Pessoa a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra. Mas, pela sua violência e fraqueza, põe mais a claro o que em Pessoa ficou discreto e implícito.


Nota: Os textos referentes a cada um dos heterónimos de Pessoa constituiem as manchas de texto requeridas na Proposta 02.